28.4.06

Ir para fora cá dentro

Bolonia,Valdevaqueros,Provincia de Cádiz,29.04 a 02.05. Ora, se não me levarem a mal, eu vou ali dar um pulinho,
e já cá volto

27.4.06

ordenações ao escriba

"não postes aos outros aquilo que não queres que te postem a ti!!! e não menciones o meu nome." (outra tanscrição do messenger, posta a leitura do anterior post)

Best-seller

(tanscrição de conversa no messenger há exactamente 3 minutos atrás) Pezinho de coentrada dice: "-Ofereceram-me um livro nos anos que trazia na capa: best seller em 20 países e eu pensei logo q o livro não era p a camada intelectual porque best-seller é um epíeteto popular nenhum livro d saramago, nem d lobo antunes que são êxitos de vendas têm essa designação têm escrito qts edições já tiveram ou prémios ou coisa que o valha mas nunca, nunca, nunca best-seller. é um tal de irvin d. yalom que escreveu quando nietzsche chorou o título é piroso, a capa é feia e é um best seller, com reviews d jornais americanos ... eu q amo os clichés intelectuais de esquerda fico um bocado nervosa com isto m'André from Madrid dice: quando 'nietzsche chorou'? chama-se assim o livro? sim sim!!! é horrível, não é? diz-me!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! o quê??? vais deixar de falar comigo...............................? mas eu nem li o livro...."

duvida metódica

Descartes ou não te descartes.

Heresias VI

Se Deus existe, é porque foi criado à nossa imagem e semelhança.

oito horas de labor ou o sufoco da estupidez

Recordo-me frequentemente - aquilo a que um psicólogo do alto da sua cátedra apelidaria de trauma - de ser chamado pela primeira vez à directora da minha escola, estavam cumpridos os meus sete anos de idade. Naquela altura, um qualquer menino de coro (éramo-lo todos), surgiu com a ideia de racismo. Seguramente a ouviu em casa, e bem lhe pareceu apregoá-la aos sete ventos no dia seguinte. O menino, daqueles que as meninas gostavam e cochichavam mais que outros meninos ditava nessa época as modas do colégio e tal assim foi que nesse dia a moda foi o racismo, ao qual, evidentemente na 'Avé -Maria' havia que responder de boca em bico que não-Sr., que não se era racista e ademais se era contra todos os que o fossem. Chegado a casa, o menino que já fui eu, decidiu-se a surpreender a mãe com manobra de charme intelectual - Racismo. Eu não sou racista. E a mãe? - Eu? Uiiii!!! Racista é pouco! - deixou pairar a veemência de tão anti-pedagógica declaração em prolongados dois segundos, e acrescentou - Odeio gente estúpida! O menino chocalhou lá dentro todos os seus conceitos e pre-conceitos e saltitou todo o santo tempo que mediou entre esse justo momento e o dia seguinte, impaciente entre a sabedoria do colégio e a sapiência maternal. O resultado de tanta ponderação demonstrou desde logo uma forte capacidade de combate e atrevimento mas também, há que confessar, uma grande dose de ingenuidade. O menino não esperou sequer pelo recreio-grande-de-depois-do-almoço, não esperou por um qualquer intervalo com os colegas de idade. Não! A resposta era nova, havia que lançar a bomba e a primeira hora da manhã, de contas-e-matemática foi a melhor das oportunidades; para endereçar à professora idêntica pergunta à que, na véspera, havia dirigido à sua mãe. Desta feita, no entanto, fez suas as palavras da sua mãe e o mais que se recorda imediatamente depois disso foi estar no gabinete da directora esclarecendo aos sete anos de idade o quid pro quo de odiar gente estúpida.
Desde esse momento, seja pelo simples trauma de quem nunca quis dizer o dito por não-dito, seja porque nesse mesmo dia acreditei ou quis acreditar naquelas que a todos fiz querer serem as minhas palavras, a verdade é que desde esse dia – mais de duas dácadas se passaram – essa continua a ser uma forte convicção: a falta de paciência e o genuíno desprezo e desespero na presença de gente estúpida, chicos-espertos, aldrabões e incompetentes.

Noite europeia

O Barça, essa que é a mais bela equipa do mundo a jogar esse jogo de estarolas de dar chutos na bola, como antes prometi aqui, vai ganhar essa competição de tostões e milhões que é a liga dos campeões.
Se a vitória lhes é devida; é também verdade que os amantes da bola estão tão decididos neste desígnio como os simples adeptos catalães e quando assim é, a sorte junta-se ao diabo e escolhem cobardes um lado só para se esconder.
Ainda assim, e torcendo entusiasta por uma vitória catalã, quero antes que seja tarde, atacar esse diabo mascarado de sorte. O diabo vestido de azul-grená e que fez o Barça cerrar as três eliminatórias em casa, recorreu ao expediente-expulsão na primeira delas, ao expediente-marca-penalty-quando-convém-,-não-marca-quando-não-convém na segunda e ao expediente anula-golo-depressa-antes-que-alguém-veja-e-que-seja-tarde nesta ultima.
A verdade, como dizia o comentador da TVE, é que isso não importa; - a 'gente' queria o Barça na final; a 'gente' tem o Barça na final - Queira a mesma gente, um dia, algo para o meu Benfica...

lírica tradicional

Se da sorte dependem os jogos de azar, do amor dependerão os jogos do engano?

Heresias IV

Se Adão fosse homossexual não teria seguido Eva. Heresias #1#2#3

26.4.06

Estruturas

Prefiro 7,2 a 7,5 ou 10.
Divide-se por 2, por 3, por 4, por 6 e até por 1! Por outro lado, quando multiplicado, por uns, ou uns e poucos, atira-nos para os 12, os 15, os 18....
O 7,5 lixa-se logo à partida se o temos de dividir por 4. Ora bem, aqui vão 4 janelas de 1,875... (iam...)
O 10 não gosta do 3 e essa incompatibilidade prejudica à partida os dois.

25.4.06

vinte e cinco do quatro

Confesso, aqui e ultimamente desde Espanha, que definitvamente prefiro, talvez por irreverência, o 10 de Outubro, logo depois os 25's de Dezembro e Repastos Pascoais que me permitem ir à ocidental praia, depois o feriado já não sei do quê que chamam d'Os Mortos, o da Nossa Senhora da Conceição, do trabalhador e afins. Lá para o final vem o 25 de Abril.
Por aqui, palmadinha nas costas, sorriso que procura outro para partilhar cumplicidade, uma vénia discreta mas genuína e o inevitável comentário
- Hoje é o 25 dos cravos, parabéns! é uma data que me e nos criou muita ilusão. Como o Maio em 68, como todas as vezes em que um sonho se constrói. Vezes em que desejamos com inveja poder participar nos alcances dos outros. (...)
Eu, gosto dos cravos. Gosto do mito e gosto de ver, também em Portugal, o brilho nos olhos de quem depois desta data, viveu os melhores anos da sua vida.
Contudo não gosto desta obrigação que eu tivesse de estar feliz ensemble, não gosto de outros, que como eu, obrigados, ensejam a crítica feroz à revolução, não gosto que seja tão dificil aceitarmos uns nos outros a memória desta revolução.
E por isso, agora que está feita a revolta, gosto de passar por cima dela sem lhe dar importância. É que, se recordar é viver, também é desistir um pouquinho de ajudar os demais a alcançar o que recordar.

24.4.06

Fim (de semana) ou o começo (da modorra)

"Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não o fazer! (...)"

20.4.06

Temp(l)o de letras

Há-os de escrita. Há-os de leitura. Nos tempos que ultimamente me convocam, consintam-me, entretenho-me com os ultimos. (Vou ali, já volto - adormecer com o Lobo Antunes)

19.4.06

Blogues de Miudas

A culpa é dessa série tonta que tanto vos encanta da Sarah Jessica Parker. A visão curta e inchada que as mulheres são um colosso de sexo, das quais os homens nunca sabem tirar partido. São fanatismos equivocados como o foram em seus dias alguns dos manifestos em que se quis querer se suportariam as conquistas feministas futuras.
Para além deste aspecto, há outro ainda, quanto a mim, mais nefasto. A guerra surda que as mulheres lançam aos homens como contraponto há que se diz ser historicamente dominante; a dos homens contra as mulheres.
Ainda que, tanto quanto me parece, todas as guerras serem legitimas de ser travadas, a questão -a existir uma- centra-se na questão da alternativa: Que teriam efectivamente essas mulheres a propôr de melhor alternativa à paixão que sentem pelos homens? E se, como parece ser norma, persistirem na ideia de criticar o 'mau sexo' particado pelos homens, onde encontrarão um melhor, Umas com as outras?
Quantas séries igualmente repugnantes não existiram que consistiam na frágil ideia de homens falando uns com os outros das mulheres que querem conquistar e que nunca lhes são suficientes, tanto em qualidade como quantidade? E qual é a opinião dessas mesmas miudas e seus blogues a essas mesmas séries?
Um dia chegará em que se aprenderá a fazer sexo de costas, porque já ninguém tem o equívoco que um outro o satisfaça ou simplesmente lhe baste.
Mundos do ego em que vivemos, mundos de ego.

tua culpa, mea culpa (tambene?)

Être "Somos a geração de todos os sonhos. Nados e criados na liberdade, estamos sempre a ouvir que temos à nossa disposição um mundo de oportunidades. E, no entanto, olho à minha volta e vejo uma geração descontente. Que se sente presa. Que não é livre. Temos sonhos perdidos num oceano de liberdades que nos são impostas, cercados pela culpa de não corresponder às expectativas de quem nos faz livres. Os nossos pais viveram numa altura em que a falta de dinheiro era uma prisão, em que a cultura era um ideal. Criaram-nos com tudo o que materialmente nos era possível dar. Esmeraram-se para que tivessemos uma "boa educação". Mas, hoje, somos apenas uma massa vazia, sem sonhos. Que, quando ainda tem ambição, foge para o estrangeiro, em busca de uma vida melhor. Só que agora, ao contrário dos nossos pais e avós, não vamos apenas para ter mais e melhor.
Fugimos, queremos fugir, para, simplesmente, ser."

13.4.06

À espera

De hoje, de amanhã, do sucesso, da glória, do amor, do dinheiro, da paz, do que nunca será, das respostas platónicas, de um holofote, da vida para sempre, de mim uno, de um momento só nosso, de nós, à espera de ti, à espera de Godot? Samuel Beckett, hoje, 100 anos da sua morte

Semana Santa

12.4.06

As vias de C.

-Jovem repleto de armas nos bolsos, a troco de respeito passeia-se pelo chiado.
-Homem de meia idade nascido em Espanha, crescido no Chile, economista de profissão actualmente a viver em Lisboa e a trabalhar no Millennium, passeia-se também pelo Chiado.
-Mulher, sedutora de profissão, estilista em part-time em plena flor da idade passeia seus seios erectos, pelo Chiado.
Mulher sedutora fixa seus olhos numa montra sem para isso abrandar o seu passo e ir direita ao que a fez vir até aqui. Assim choca contra jovem que procura simplesmente respeito. Este insurge-se e prepara-se para soltar das cordas vocais um banal “Mas qué esta merda?”. Contudo, e ao reparar no que estava diante dos seus olhos, fica-se pelo “mas”, o qual completa com “que agradável surpresa”. A mulher de seios erectos trinca o lábio tira, com inimitável mestria, a franja dos olhos e responde-lhe “Muito obrigado”.
O jovem que durante toda a sua vida tinha sido vítima de maus tratos tendo estes começado pelo pai, que era chulo de profissão mas dizia a toda a gente que era corrector de seguros, o que ia dar ao mesmo. O pai começou por o obrigar a vê-lo a experimentar o material obrigando o coitadinho do rapaz a entrar também na festa. Estes maus tratos agravaram-se com a idade pois o pai ao ver que estava a ficar impotente vingava a sua frustração no miúdo, que obrigava a prestar-lhe favores sexuais e quando a pistola do pai não funcionava, era o jovem que pagava com chapadas, murros e pontapés à altura da frustração do pai. Como se não bastasse o jovem era gozado na escola pelas enormes orelhas que abrilhantavam tão hediondo focinho.
Por estas e muitas outras razões, aquele momento em que chocou foi para si como que tudo aquilo que vasculhou, com o intuito de encontrar e decorar a sua vida. Este foi o seu momento, ali sentiu-se feliz. Não precisava de mais nada a não ser aquele sorriso, o pentear de franja, e os seios erectos em sua direcção.
Eis que naquele segundo o economista que nasceu em Espanha e cresceu no Chile interpela os dois e diz:
-Então rapaz, olha por onde andas. Podias ter magoado tão bela obra-prima de deus(quem sabe se a pensar que quanto mais prima mais se lhe salta para cima)
Vê lá se tenho que te ensinar maneiras.
- O jovem saca de uma das suas 5 pistolas aponta-a ao economista e diz:
Quero que tu te fodas. Este momento é meu, e meu permanecerá porque eu amo-a não desde sempre, mas para sempre. ADEUS
Então recolhe a arma aponta-a à sua própria cabeça e dispara.A mulher berra ao mesmo tempo que fica toda salpicada de sangue. O economista desmaia. A mulher fica a miss t-shirt molhada, de sangue, com os seios ainda mais erectos, olha para o rapaz e diz: é pena
E prossegue o seu caminho a pensar que se o jovem não tivesse sido maltratado em criança, jamais lhe teria proporcionado tamanho prazer e consequentemente, nunca se teria sentido tão poderosa como tinha acabado de acontecer.
from:G.

Biografia de um dia futuro

O mundo todo devia encontrar-se em Madrid. Hoje acordei a gostar de mim. Hoje deitei-me sem sensações de tantas que tive gastas. Gastas as sensações e a limpeza do céu oriundo de ti, gastas positivamente, renovação de um dia. m Madrid encontramo-nos Em Madrid tudo começa de novo. from: um Velasquez que não o meu; de uma Madrid que também é minha

7.4.06

O Homem que não sabia viver com a sua sombra

Quando se apercebeu que a sua Sombra o perseguia, ainda que sempre se imiscuindo de ser Ela a determinar o percurso, o Sujeito julgou ser já demasiado tarde. Pior que medo de gato escaldado de água fria, desatou correndo, sem destino, desamparado, delirado. A sombra gostou do jogo, seguiu-o insistente e de igual passo, e com evidente menos cansaço. Correu assim uma manhã e a tarde que se lhe seguiu enquanto de noite dormiu descansado, da sombra abandonado. Na manhã seguinte voltou a correr fugindo sempre em frente sem direcção aparente, e na tarde e na manhã e em todas as tardes e manhãs por aí fora. Correu na vã expectativa de fugir da sua próxima sombra durante exactamente três anos, um mês, dezoito dias e vinte e três horas; Assumiu sua, essa anónima tarefa, durante o período que justo antes se referiu até que a passos tantos, e suores muitos o Sujeito, se sentou num qualquer incógnito banco de jardim. Abriu as pernas, sobre elas deixou cair as mãos vermelhas do esforço e a cara, inchada como que se de álcool ingerido se tratasse, olhou em frente tomando o calor forte do Sol que tinha exacta e resplandecente à sua frente e então fechou os olhos. Suspirou fundo, muito fundo e sentiu salgada a lágrima que não conseguiu deixar de largar pela incontornável prisão de se ter de viver uma vida inteira controlado por uma sombra. Aí a lassidão entorpeceu-lhe os membros como nunca e foi assim, sem decisão propriamente tomada que se deixou ficar novamente três anos, dois meses, dezoito dias e vinte e três horas sem fazer rigorosamente nada, num incógnito banco de jardim. Por três vezes se deixou cobrir por caducas e amareladas folhas, três vezes se deixou cobrir tão de branco que chegou a parecer feito de nuvem, três vezes desabrochou e se deixou florir e outras três vezes se deixou passar por encima por esquilos, e demais animaizinhos em alegres brincadeiras de estação farta. Foi com um desses animaizinhos lambendo-lhe as bochechas salgadas das lágrimas que nunca deixaram de jorrar durante todo esse período que acordou tão subitamente como antes se havia deixado adormecer. Olhou em frente e atordoado, viu uma luz branca intensa que mal lhe permitiu abrir as pálpebras. Esfregou os olhos, limpou as lágrimas e pediu educamente ao esquilo que se lhe fosse da face. Então reconheceu claramente a luz. Era a mesmíssima que em ultimo havia visto fazia já três anos e pouco, ainda que da demora da data não tivesse o Sujeito a absoluta consciência. Olhou-a, tomou-lhe parte da energia como sua e esboçou o primeiro sorriso em seis anos, três meses, seis dias e vinte e duas horas. Nesse mesmo momento, como se algo ou alguém o quisera impedir de ser genuinamente feliz pela primeira vez em tantos anos ocorreu-lhe pensar na sua própria sombra e o sorriso foi-se, sôfrego, em menos tempo que o que se sabe até aos dias de hoje, medir. Olhou em volta e nada. Uma vez e outra e nada. Pensou por momentos que a sombra, essa maldita guarda da sua vida o tivesse abandonado. Pensou que se os Homens todos pudessem, como ele, dormir durante anos a fio, a sombra os abandonaria e iria incomodar outros animais ou objectos. Pensou inclusive e tão seriamente, na possibilidade de estar morto que se beliscou. Fê-lo com tanta desmesurada vontade que o sangue jorrou violento e escorreito do braço para o chão. E ei-lo e ei-la! O sangue da vida! Com ele, a rebelde impingem da sombra acompanhando o seu sangue em linha directa e, como se recordava, sem nunca eleger por si própria o percurso que melhor julgasse para ela. Soltou o maior berro da história da humanidade até então soado, uma vez e uma segunda e outra até ficar sem voz. Enquanto isto, havia-se levantado, girado cento e cinquenta e um graus sobre os seus calcanhares e encarado de frente a sombra que, desta feita, não lhe respondia como por vezes lhe costumava fazer o eco quando lhe falava assim. Uma vez a voz ida, virou-se novamente e, com o coração chorando fininho e desesperado lá dentro, deixou-se cair desta vez no chão, disposto a desistir. Chegou inclusivamente a pensar fazê-lo com multiplas beliscadelas, por ser um processo que já controlava e pelo prazer sádico, que quanto a ele, não lhe restava outro que não esse, de ver a sombra sofrer devagarinho ainda que com ele, numa saga trágica de dois amantes tornados mortos por não saberem viver juntos. Nestes trâmites fúnebres estava, quando reparou que, ao deixar-se cair no chão a havia deixado ficar por detrás das costas. Imóvel deixou-se quedar firme tentando calcular quanto tempo mais puderia prolongar esse estado de graça. Fez cálculos mil de cabeça, até se decidir pela conclusão que nem de perto lhe parecia a mais acertada cientificamente – que se lixe a ciência – mas que certamente mais lhe convinha: A Sombra tem medo do Sol! Seria por decisão, por metabolismo ou por trauma da própria da sombra mas apenas nesse momento de silêncio de quem esgotou a voz por não encontrar razões de a utilizar mais nem melhor é que o Sujeito se apercebeu que entre o Sol e a Sombra, desde que se conseguia lembrar, havia estado sempre Ele próprio. Ousou deduzir que a sombra tanto temia o Sol que havia decidido esconder-se dele, Nele; Se já antes havia tentado tão desesperadamente fugir sem nunca alcançar perdê-la pelo caminho, o que melhor teria a fazer seria olhar o Sol. Sem medos, sem resguardos, sem falsos caminhos nem atalhos de circunstância. Se o olhasse de frente, sem medo, buscando nele a energia que claramente a sombra não desejava – talvez por isso fosse negra... – talvez pudesse viver com ela pelas costas, simplesmente sem nunca a ver. Sem melhor solução que essa de perseguir o Sol, ergueu-se, respirou fundo e de pé direito na lide, encetou o caminho de ‘Lucky Luke’ rumo ao Sol sem nunca ter descoberto como se fazia isso de disparar mais rápido que a Sombra. Este foi o primeiro pensamento positivo que teve e posto este nunca teve outro que não fora de igual sinal. Ele era mais do que o Lucky Luke porque havia aprendido a viver com a própria sombra! Pela vida fora, essa foi a vida do Sujeito. Uma vida inteira - ou o que lhe restava dela, que é para todos sempre mais do que esperamos – de peito cheio, sempre iluminado e fosse para onde fosse – deveu-o à sombra - sempre sem olhar para trás.

Saudades II

E as saudades tb de quem não tem data marcada para ser reencontrado. A ti, Joana, a ti Dédé, a ti Maria Ana, a ti Ruivo. Por ti, por vocês, este vazio seco de vos querer para além dos quilómetros que nos apartam da vista, e de um qualquer vinho branco numa qualquer esplanada de Lisboa. Convosco os sonhos, as expectativas, o crescer quando se-o deseja ou não. O saber simples que fracassar ou o gorar de essas mesmas ilusões é sempre secundário. Saber que o que nos move é o percurso. Puro e Simples. Partilhado. Agora ainda de mãos dadas mas de dedos muito, muito distendidos.
O meu grito d'oje, é para vós.

5.4.06

Tonight is the night

Se acredito? Por supuesto amigos.
Contudo, tenhamos claro que o mais importante é mesmo o dia de hoje. Este nervoso miudinho. Este continuado roer de unhas. Este ouvir decrescentes os ponteiros do relógio. Este desejo alarve de querer mais. Esta sensação de poder alcançar uma qualquer transcendêndia.
Depois do jogo, ganho ou perdido, já valeu o dia de hoje e a semana que passou. E se, amanhã de manhã acordarmos com a vitória do nosso lado, a garantia que o nervoso miudinho e a ânsia indisfarçável que chegue a seguinte quarta-feira será novamente o melhor do dia que começa.
Eu acredito; mas mais do que isso, acredito que se pode, e se deve, acreditar.
Que se vá o dia e que chegue depressa o lusco-fusco. Aqueles 5-7 minutos onde tudo acontece e onde a nossa vontade se começará a jogar com os pés de outros.

4.4.06

...a chat's tantos...

(...) vou descobrir essa sementezinha boa que nos faz depois querer comprar cadeiras do Corbusier a dois (...)

Alerta Laranja

Situação de crise, mãos na cabeça, incredulidade, estupefacção. É este o ambiente que se vive nas calles madrileñas.
- As pessoas estão perplexas e não podem acreditar que a eliminatória do Glorioso Benfica de Lisboa possa sequer equacionar nao ser transmitida amanhã. Seria como não trasmitir o fumo branco no Vaticano - Confessou-me uma anónima cidadã.
"A transmissão do jogo Barcelona-Benfica da segunda mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, que se realiza amanhã, em Espanha, está a causar polémica entre o Governo de Madrid, a comissão de trabalhadores da TVE e a UEFA, por coincidir com uma greve contra a reforma em curso na estação de televisão."

as vidas de C.

"Tinha os sapatos castanhos e gastos, muito gastos, mas parecia um príncipe. Se não fosse o seu ar triste e alheado de quem se esconde do mundo, julgaria que, isso dos sapatos castanhos e gastos, era só mais uma moda. Segui o meu caminho meditando sobre os sapatos, castanhos e gastos, como quem medita sobre um enigma esfíngico. Como quem concentra todas as emoções num só ponto, nuns sapatos castanhos e gastos. E meditava nessa mensagem encriptada enquanto, lentamente, voltava para casa. Estava já muito perto do meu Destino quando percebi. Meditara longamente sobre uns sapatos castanho e gastos. Mas fora o rosto fino, emoldurado por um cabelo negro, fino e escorrido, que me ficara entranhado na alma. Não sabia já dizer se os sapatos, castanhos e gastos, muito gastos, tinham sequer atacadores. Mas sabia de cor o traço daquele nariz que vira apenas um instante.
Tinha-me apaixonado."

as vidas de C.

(...) andou por este blog um tal C. que se fez desejar perguntando se continuaria e acabou não o fazendo. Contudo, entretanto, e enquanto C. esteve hibernado, eu fui-lhe dando vida, querendo para ele algo que também queria para mim ou, pelo contrário, desejando-lhe males que espero nunca me acontecessem. Foi desse modo que C. se tornou nos ultimos tempos um amigo inseparável, alguém que me ajuda a ver e a querer as coisas da mesma forma de sempre mas com uma preserverança de nunca antes. Nas vidas que lhe fui imaginando o traço fundamental de personalidade de C. era sempre o mesmo: o do Homem na Cidade chocando incessantemente com o Amor. O do Homem cheio de Amor para dar, o Homem que sente não conseguir dar sequer um passo mais sem dar esse Amo, o do Homem que crê (como eu) que não existe uma hora certa para o Amor ou a Mulher da sua vida lhe passar diante dos olhos. C. é o Homem igual a nós todos, com a delicada diferença que C. vive as coisas não como aconteceram senão como poderiam (e segundo C., como deveriam) ter acontecido. A trilogia: O Homem. O Amor. n’A Cidade C. é um Sara Jessica Parker, mas muito mais . Primeiro porque não é necessariamente belo, segundo porque não busca necessariamente o sexo, terceiro porque prefere amar a ser amado. C. é também um pouco da minha voz que diz que o teatro, o cinema, a fotografia, a escultura, a colagem, a intervenção, ... não são mais do que a mera rotina que nos concerne: a rotina do supermercado, do metro, da bomba de gasolina, da fila nas finanças, do mercado de flores, do café do bairro ou do local de emprego. Porque o Amor e o Desejo existem C. é a partir de hoje o novo e, espera-se, digno, incorrigibile romanesque deste blog. (e) para que se acredite que C. existe e está em todos nós, os próximos dois textos, são de C. e nem são meus...

Saudades

Não sei de quem as tenho mais; se de inúmeros locais onde nunca estive, se de tempos que nunca vivi.