27.4.06

oito horas de labor ou o sufoco da estupidez

Recordo-me frequentemente - aquilo a que um psicólogo do alto da sua cátedra apelidaria de trauma - de ser chamado pela primeira vez à directora da minha escola, estavam cumpridos os meus sete anos de idade. Naquela altura, um qualquer menino de coro (éramo-lo todos), surgiu com a ideia de racismo. Seguramente a ouviu em casa, e bem lhe pareceu apregoá-la aos sete ventos no dia seguinte. O menino, daqueles que as meninas gostavam e cochichavam mais que outros meninos ditava nessa época as modas do colégio e tal assim foi que nesse dia a moda foi o racismo, ao qual, evidentemente na 'Avé -Maria' havia que responder de boca em bico que não-Sr., que não se era racista e ademais se era contra todos os que o fossem. Chegado a casa, o menino que já fui eu, decidiu-se a surpreender a mãe com manobra de charme intelectual - Racismo. Eu não sou racista. E a mãe? - Eu? Uiiii!!! Racista é pouco! - deixou pairar a veemência de tão anti-pedagógica declaração em prolongados dois segundos, e acrescentou - Odeio gente estúpida! O menino chocalhou lá dentro todos os seus conceitos e pre-conceitos e saltitou todo o santo tempo que mediou entre esse justo momento e o dia seguinte, impaciente entre a sabedoria do colégio e a sapiência maternal. O resultado de tanta ponderação demonstrou desde logo uma forte capacidade de combate e atrevimento mas também, há que confessar, uma grande dose de ingenuidade. O menino não esperou sequer pelo recreio-grande-de-depois-do-almoço, não esperou por um qualquer intervalo com os colegas de idade. Não! A resposta era nova, havia que lançar a bomba e a primeira hora da manhã, de contas-e-matemática foi a melhor das oportunidades; para endereçar à professora idêntica pergunta à que, na véspera, havia dirigido à sua mãe. Desta feita, no entanto, fez suas as palavras da sua mãe e o mais que se recorda imediatamente depois disso foi estar no gabinete da directora esclarecendo aos sete anos de idade o quid pro quo de odiar gente estúpida.
Desde esse momento, seja pelo simples trauma de quem nunca quis dizer o dito por não-dito, seja porque nesse mesmo dia acreditei ou quis acreditar naquelas que a todos fiz querer serem as minhas palavras, a verdade é que desde esse dia – mais de duas dácadas se passaram – essa continua a ser uma forte convicção: a falta de paciência e o genuíno desprezo e desespero na presença de gente estúpida, chicos-espertos, aldrabões e incompetentes.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Deve ser hereditário... Sofro atrozmente com igual problema e outro ainda: o de efectivamente não conseguir disfarçar o quão essa gente me enerva!
(Foi assim tão mau o teu dia de trabalho??)
Um bjo grande!

4/28/2006 11:45 da manhã  

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