28.2.06

Martes de Carnaval

Não vi um Rambo, um Tarzan, nem uma Pocahontas e não me cruzei com a Abelha Maia, nem com o Rato Mickey ou com um Incredible; também não dei passar pela Princesa, pelo Rei Mago e pelo Pai Natal fora de estação, assim como desta vez não passou o cientista louco, a enfermeira e o homem de saia escocesa. Não vi uma máscara, um disfarce, um adulto feito adúltero.
O Carnaval passa deste país ao lado e eu que sempre fui de julgar que o Carnaval é quando o Homem quiser, queria este ano que Espanha o quisesse agora.

Terça de Carnaval

Feliz o chefe que não dá folga na 3ª de Carnaval mas que, diligente, compra uma cabeleira para se estar sambando em frente do monitor.

27.2.06

blá blá blá nevoso

Quando um dia, as televisões tiverem mais tino, os jornais mais critério e as pessoas menos paciência, o simples cair de neve deixará de ser notícia. Entretanto e enquanto não, a diarreia dos outros serve para minha justificação:
Pois bem, este fim-de-semana por aqui continuou a neve, e ainda que a informação não tenha compreensivelmente mais interesse do que a aragem que se vos provoca quando algo vos entre por um ouvido e saia directamente pelo seu oposto, dá o mote para que se aplauda e se faça a devida vénia à física. Pela sua diligência e sentido estético. É que se faz frio e tem de chover, é de sua inteira e exclusiva responsabilidade o 'pintar' de tamanha tortura com tamanha voluptuosidade.

Síndrome de Lunes

Ou tem a cama dias em que se encurta, ou têm as pernas dias em que se alongam.

Café da Maña XXIII

Todos os dias seguintes são bons quando cumulativamente o Glorioso Alfacinha triunfa, e a Galáxia Madrileña definha.

24.2.06

Gêzisses

Um amigo. Um blogue. Uma assinatura: PontoGê. Outro amigo. Outro blogue. Uma assinatura: GêPonto. em comum para além do Gê e do Ponto e do blogue e da amizade que nos une, um desejo comum de dizer coisas, muitas coisas. Portanto, não esquecer acrescentar ao .G de longa data ainda que por ora adormecido, o novato mas desde logo experto G.

Condição: Arquitecto III

Aquele cuja arte é a de saber (e conseguir) gastar o espaço, a paciência, e o dinheiro dos outros. Ficando necessariamente sem espaço, paciência e dinheiro para ele próprio.

Concílio

«Tenho de seguí-los, sou o líder deles.» Ledru-Rallin

23.2.06

Mourinho vs. Barcelona

É prova não provada, que uma vez mais, teve de se recorrer ao vencedor futuro da competição para se derrotar o vencedor antecipado da mesma.

Café da Mañã XXII

No percurso de todos os dias, a neve cai, o silêncio paira, a tranquilidade rege e as expressões transpiram. No entanto, sem contemplações, o percurso termina onde a obrigação diária sempre impera: na porta do escritório. No subir de catorze graus e no baixar de catorze degraus, no sentar-me na secretária de sempre em frente ao monitor de sempre. Termina onde, em dias que também o de hoje, o pérfido mundo laboral tem na impérvia cava de onde vos escrevo, o local prolixo para vencer.

Sonho de uma noite de inVer(n)ão

Cá fora, gélidas farfalhas de neve esvoaçam. Caem ostensórias e sem pressas, escolhendo indecisas o telhado onde extenuar. Lá dentro, o Homem fecha os olhos e sente quente a lareira que um dia a sua casa terá. Com os olhos assim cerrados por querer, o espírito comanda. Inventa e voeja. Cheiros, tempos, temperaturas e gentes. O dia de ontem, o de hoje e o que, como a sua lareira, porventura nunca será. Assim como a neve cá fora, lá dentro também o espírito acaba por extenuar. Esgotado, não se lembra já do mundo percorrido pelo sonho e vê clara e nitidamente como se de coisa carnal efectivamente se tratasse, a sua mulher de desejo. Obrigatoria e necessariamente, sonha-a a seu lado. Com tão menos roupa, quanto mais apertava o frio, envolta em tão mais luxuriante vegetação, quanto o frio cá fora obrigava animais, homens e plantas e envolverem-se envergonhadas em si mesmos. A mulher fulminante existia só para Ele, e Ele, sem pressas e sem pejo investia sobre ela com todo o odor corporal que sempre havia sonhado ter. Fisga-a de morte. Percorre-lhe o corpo quente, com o quente que recebe da lareira; avança de língua em riste sobre um dos seus seios, por concepção desnudo; e sente o calafrio duma virilidade que supunha ser do exclusivo alcance do cavalo de padreação. O Homem deseja-a em absoluto; e quer em simultâneo consumar um acto indecoroso e ficar ali para sempre. É já tarde e é também então que o Homem esperto, desperta levemente do sonho para sentir trémulas as pernas e sentir, arrebatador, o calafrio do garanhão. Os olhos revolvem, dão abertos, uma volta completa sobre si próprios até que, exaurido o corpo e a mente, se deixam fechar de novo, agora em definitivo. O Homem adormece. Ele e ela, ela mais Ele, os dois juntos, adormecidos e satisfeitos naquele que não foi mais que um caloroso sonho de uma noite de inVer(n)ão.

22.2.06

Condição: Arquitecto II

Aquele que acredita que a concepção (se) vem antes da erecção.

Assertividade

Nao leio, passo à frente, fecho os olhos, não quero saber, faço de contas, assobio para o lado, ponho a mão no bolso, coço o tomate, atendo um telefonema que não é para mim, limpo a narigueta, ainda palito os dentes, e sempre sem me desculpar; sempre e quando vejo nos blogues portugueses, textos na lingua dos Beatles. Não os leio. Ignoro-os. A começar pelo que escreva nesta sede nessa mesma língua.

Café da Mañã XXI - adenda

Desses todos os dias, são ainda melhores aqueles em que, cumula(outra vez)tivamente, exista cheta, pasta, carcanhol ou a pura mas não simples honra de uma aposta feita nesses mesmos preceitos.

Café da Maña XXI

Todos os dias seguintes são bons quando cumulativamente o Glorioso Alfacinha triunfa, e a Galáxia Madrileña definha.

21.2.06

Benfica MAD.RIDe

Todos ao Oneill's, ver a bola!!!
Venha daí comunidade SLB!!!
Conto contigo pipoca?

Condição: Arquitecto

«Believe me, that was a happy age, before the days of architects, before the days of builders.» Seneca

Café da Maña XXI

Lá em casa, acabou-se.
E o café, já se sabe, é como o tabaco que tem de ser Light, o chocolate que tem de ser branco, o leite que tem de ser SemiDesnatado, a Coca-Cola (com limão) que nem pensar ser Pepsi, o Gin que só pode ser Bombay, o sabonete que tem de ser Dove, os cereais que têm de ser Nestlé, as meias que tem de ser escuras e lisas, as calças de ganga que têm mesmo de ser azuis, o brinco que não pode ter nada em dourado, o papel higiénico que não pode de maneira nenhuma ter desenhos, o vinho tinto que vá de volta se vem frio, e o branco que ide igual se vier quente, ou o que mais quiser que seja que por uma ou outra razão (ou mesmo por razão nenhuma), tiver de ser de uma, e uma maneira só. E não são mais que estes pequenos detalhes que fazem de cada um, um ser único e especial, que fazem com que cada um se comporte com tão maior consequências, quanto mais pequeno for o detalhe.
É o caso claro da raiva que de mim se apodera quando, na chaleira de todas as mañas, o pérfido Café Portela substitui, tentando passar despercido, o Café Delta Torrado Moído para Saco. Desplante!

20.2.06

Diário da República - 1ª série

A grande vantagem de eu andar informado, e sempre preferir Portugal a Espanha, é a de que desconhecia até esta manhã que a grive aviar já andava por terras de Cervantes, mas por outro lado (desse) não me escapou que o Diário da minha República de hoje publique a Portaria 145/2006 que:
"Lança em circulação, cumulativamente com as que estão em vigor, uma emissão de selos alusiva a «todas as ocasiões». " Nem mais. «todas as ocasiões». Não excluindo compreensivelmente a eliminatória do Benfica contra o Liverpool, nem a Caramela Irmã Lucia embrulhada em celufane, muito menos a greve dos funcionários do latão da margem Sul. Ganda país!

taMbién

Em Espanha, antes de Pê ou de Bê também se volta atrás e se põe um Mê.

Procura-se.

Proxeneta que zele pela puta da vida.

Querida usuária anónima:

Não. Lamentavelmente nós, há dez anos atrás, também não chegámos ao dia dos namorados.

17.2.06

Teoria da findesemanidade

O stress de sexta feira à tarde está para a preguiça de segunda feira de manhã; como a febre de sábado à noite está para a ressaca de Domingo inteiro. Ou vice-versa. Ou tudo baralhado e dado de novo. Mas a ideia não anda longe daí... Seja o que seja, e seja como fôr, que o fim de semana vos traga de bom, o que de bom quiserem dele.
Até à preguicite de segunda, boa febre!

16.2.06

A deambulação que odiava Inócuo

Dizia Garcia Marquez que a chave de uma boa estória é sempre a de uma boa imagem. A imagem petulante de um velho recostado num banco de jardim, com a serenidade da vida toda pelas costas é bom ponto de partida para uma fabulação imensa de quantas mulheres o abandonaram e de quantas (e como) as abandonou ele. A mão poisada sobre uma das suas pernas é a memória ainda viva de como antes a poisava na perna de outras e o chapéu fundo com abas é a revelação subtil de que o tempo já não é o seu nem delas. O velho de sorriso descansado - já perdeu o medo ao tempo - sabe que não sabe ficar calado, sabe melhor que ninguém que a sua imagem fala por si e que a sua estória está toda ali, chapadaescancarada, para quem a quiser escrever por ele.
Uma boa imagem vale mil palavras, muitas palavras; talvez mesmo um texto inteiro ou um livro para quem tenha nas palavras o processo de contar os sonhos, chorar desventuras ou vociferar vontades. Contudo, a breve estória das imagens postas em palavras não é coisa do fácil alcance. Há que, antes de saber pôr as palavras umas com as outras da forma correcta, saber ver uma história para lá de uma imagem, saber ver uma imagem para além das coisas da vista; saber abrir bem os olhos - ou semicerrá-los (também bem) - e ver o que está, onde antes não estava nada Ocorre-me semelhante deambulação porque vejo na cidade da gentes, a vista curva e turva. No metro das minhas paixões, a vista de todos segue descarreira da vista dos outréns. Cruzar olhares é intromissão de propriedade e fixá-los seria certamente violação consumada. Na cidade da gentes, a individualidade marca o passo e as formigas diligentes cruzam-se a todos os dias não apenas sem se cumprimentarem como, além do mais, evitando confrontarem o simples olhar. ¿Quantos amores por acontecer, quantas mortes por ditar, quantas paixões por gritar, quantas palavras por trocar, quantos romances por escrever, quantos? E segue a gente. Pouca-terra-pouca-terra. Deixando por ler a cada dia o romance desse dia, deixando a cada dia por acontecer, os romances da vida toda.
A chave de uma boa estória é sempre a de uma boa imagem. ..

15.2.06

14 de Fevereiro

Prometo que só festejo quando 'calhar' numa sexta-feira, 13.

8.2.06

Café da Mañã XX

C. viu-a esperando o mesmo metro de todos dias e não quis mais nesse dia, deixar para nunca ouvi-la falar. Buscou-lhe o olhar, como quem busca os olhos duma criança em birra, e quando os olhos se cruzaram, abriu-os bem abertos para que soubesse que os abria por Ela. Aguentou-os assim não mais do que um ínfimo segundo, suficiente ainda assim para corar, e se lembrar subitamente que trazia calçados uns sapatos que mereciam sem mais demora ser olhados de cima. Ela não se atemorizou. Não desviou o olhar. Tão pouco fez questão de corar. Também Ela sentia que não havia que deixar para nunca, aqueles olhares repetidos de todos os dias... Foi então que por entre pessoa aquí - com licença – pessoa ali – dê-me só um jeitinho – Ela investiu sobre C., imperturbábel e sem nunca dele desviar o olhar, nem o pensamento (deste modo, pelo menos, lhe pareceu a C. que assim se passou) e quando a Ele chegou deixou-se ficar. Queda e muda. Sedutoramente fulminante. A distância entre os dois, mínima. Um do outro sentiam a respiração; o cheiro do corpo de um e de outro explodindo por dentro, mortinho por eliminar todo e qualquer botão que os apartasse, um coração disposto a explodir só porque sim. Porque está no metro. Porque são nove da maña. Porque C. e Ela estão ali. Porque estão mais juntos que nunca. Porque o mais belo beijo estava à distância de tão pouco. Ou apenas porque sim. Então, próxima parada – Gregorio Marañon. Ela gira. Primeiro os pés, depois as pernas e o tronco. Garante que olha C. uma vez mais e C. certifica-se que Ela o olha uma vez mais e, semicerrando (deliciosamente) os olhos, gira a cara sobre os calacanhares. A anca, essa, foi a ultima abandonar o local (deste modo, pelo menos, lhe pareceu a C. que assim se passou), seguindo o resto do corpo decidido a cumprir mais um dia igual aos outros. Não falaram. Talvez amanhã ou outro dia que venha ainda depois. Tão pouco está por saber se teriam algo que dizer-se.
(to be continued ?)

Ego

I don't suffer from insanity. I enjoy every minute of it.

6.2.06

Febre amarela

Tenho a vida (e não só a secretária), inundada em post-it's.

Doctrina

para que vós tenhais uma vida digna, Plantai uma árvore, escrevei um livro, tende um filho e mantende um blog. (muito a propósito, hoje foi dia de actualização de links. Ide ver.)

Arte como eu gosto,

na Madrid de que eu gosto: MadridAbierto'2006 Generación'2006 Arco'2006 + Vanguardias Rusas Arnulf Rainer / Dieter Roth + etc. roam-se, meus amigos, roam-se

FDS

O fim de semana começou tranquilo com a sensata decisão de comprar um ou outro dêvêdêzinho.
A sensatez revelou-se amarga e foi, sem espaço para duvidas o mais tranquilo fim de semana do ultimo ano. Tomar banho, KenPark, fazer uma sopa, Million Dollar Baby, lavar casa-de-banho, Munich, uma siesta, Brokeback Mountain, uma máquina de roupa, King Kong, tirar o frango do forno, Sin City, dormir. De tanta e tanta imagenzinha, as ideias foram-se sobrepondo e não fica muito para dissertar. Apenas e só que vou ficar acordado nos Oscares, a torcer para que a Montanha dos Partidos por Trás não leve nem um chavelho.
P.S. – façam o favor de não reparar que ando a comprar pirataria, tá?

3.2.06

O Pedro

Pois é. Chega o dia de confessar que a casa do Velasquez não é só minha. Comigo vive um outro sujeito... Também.
Também português. Também de Lisboa. Também vinha só por uns dias e acabou ficando. Também cheio de vidas mil. Também querendo alcançar o mundo todo já ontem. Também moreno. Também pecador incontido. Também viciado na rua. Em vivê-la. Também trabalhador incançável. Também arquitecto. Também bom arquitecto.
Também amigo. E tanta semelhança redunda que (desde esta semana) Também bloguista. Desconcertante.
Pois.

Quizz

Se vejo em espiral a vida por diante, e se até hoje nunca percorri qualquer trajecto linear;
Em que ponto de vida estarei eu?

Café da Maña XIX

Tao certo quanto vir para o trabalho de metro, existe a certeza de a cada dia me cruzar com uma mulher que (de?) desejo. Com Ela, a certeza de uma maña apaixonante e inspirada. D’Ela a certeza tranquila que a loucura e o delírio estão ao alcance próprio e próximo.
Com Ela, a d’hoje, a fraqueza nos membros, o amor platónico, o desfalecer do corpo.

2.2.06

Brigada Anti-antitabagista IV

Caros con-brigadistas e con-brigadeiros: A esperança existe, o moral nas hostes é elevado, as espingardas estão contadas e o inimigo já descura a concentração. Desde já, vangloriemo-nos caros camaradas-do-contra-os-que-estão-contra. Congratulamo-nos, com a baixa de um terço (amén...) do preço do pau-de-fumo-sagrado (amén...). Deus é grande, mas nem Descartes soube se Ele era dos bons. Deixai-nos pois fumar, pelo seu amor. Dito isto, celebrai.

Xaropes

Sem duvida que o meu primeiro grande confronto de viver só (trauma mesmo, arriscaria); faz já mais de três anos; foi ficar doente. Querer berrar por uma sopinha, chorar por miminhos, ficar de mau humor (e ter publico para isso), não ter de me levantar do meu leito de jazência nem para a mais simplória das tarefas; Desejar a aspirina, o ben-u-ron, o xarope e tê-los ali à mão ou à distância de um refrão. Pois na Holanda, com a primeira constipaçao veio a primeira chamada ao mundo real e recordo-me hoje como se tivera sido ontem; o drama de vestir uma, duas, três, quatro peças de roupa e um abrigo mais cachecol, mais o que fosse, conduzir a bicicleta como se de um perfeito incapaz me tratasse e, cereja em cima do bolo, explicar detalhada e empenhadamente, a enfermidade a uma farmaceutica holandesa. Tal como dizia a Rainha : “Estar sozinha e doente. Mais uma razão para não ir viver para o estrangeiro.”

1.2.06

Porque hoje não blogo II

A culpa é dele. A culpa é disto.