Sonho de uma noite de inVer(n)ão
Cá fora, gélidas farfalhas de neve esvoaçam. Caem ostensórias e sem pressas, escolhendo indecisas o telhado onde extenuar.
Lá dentro, o Homem fecha os olhos e sente quente a lareira que um dia a sua casa terá.
Com os olhos assim cerrados por querer, o espírito comanda. Inventa e voeja. Cheiros, tempos, temperaturas e gentes. O dia de ontem, o de hoje e o que, como a sua lareira, porventura nunca será.
Assim como a neve cá fora, lá dentro também o espírito acaba por extenuar. Esgotado, não se lembra já do mundo percorrido pelo sonho e vê clara e nitidamente como se de coisa carnal efectivamente se tratasse, a sua mulher de desejo.
Obrigatoria e necessariamente, sonha-a a seu lado. Com tão menos roupa, quanto mais apertava o frio, envolta em tão mais luxuriante vegetação, quanto o frio cá fora obrigava animais, homens e plantas e envolverem-se envergonhadas em si mesmos.
A mulher fulminante existia só para Ele, e Ele, sem pressas e sem pejo investia sobre ela com todo o odor corporal que sempre havia sonhado ter. Fisga-a de morte. Percorre-lhe o corpo quente, com o quente que recebe da lareira; avança de língua em riste sobre um dos seus seios, por concepção desnudo; e sente o calafrio duma virilidade que supunha ser do exclusivo alcance do cavalo de padreação. O Homem deseja-a em absoluto; e quer em simultâneo consumar um acto indecoroso e ficar ali para sempre.
É já tarde e é também então que o Homem esperto, desperta levemente do sonho para sentir trémulas as pernas e sentir, arrebatador, o calafrio do garanhão. Os olhos revolvem, dão abertos, uma volta completa sobre si próprios até que, exaurido o corpo e a mente, se deixam fechar de novo, agora em definitivo. O Homem adormece. Ele e ela, ela mais Ele, os dois juntos, adormecidos e satisfeitos naquele que não foi mais que um caloroso sonho de uma noite de inVer(n)ão.
1 Comments:
e viva o escritor.!!....mto bem sr. andré...espero que o espirito da tua escrita invada,todo o seu ser...
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