Café da Mañã XX
C. viu-a esperando o mesmo metro de todos dias e não quis mais nesse dia, deixar para nunca ouvi-la falar.
Buscou-lhe o olhar, como quem busca os olhos duma criança em birra, e quando os olhos se cruzaram, abriu-os bem abertos para que soubesse que os abria por Ela.
Aguentou-os assim não mais do que um ínfimo segundo, suficiente ainda assim para corar, e se lembrar subitamente que trazia calçados uns sapatos que mereciam sem mais demora ser olhados de cima.
Ela não se atemorizou. Não desviou o olhar. Tão pouco fez questão de corar.
Também Ela sentia que não havia que deixar para nunca, aqueles olhares repetidos de todos os dias...
Foi então que por entre pessoa aquí - com licença – pessoa ali – dê-me só um jeitinho – Ela investiu sobre C., imperturbábel e sem nunca dele desviar o olhar, nem o pensamento (deste modo, pelo menos, lhe pareceu a C. que assim se passou) e quando a Ele chegou deixou-se ficar. Queda e muda. Sedutoramente fulminante.
A distância entre os dois, mínima. Um do outro sentiam a respiração; o cheiro do corpo de um e de outro explodindo por dentro, mortinho por eliminar todo e qualquer botão que os apartasse, um coração disposto a explodir só porque sim. Porque está no metro. Porque são nove da maña. Porque C. e Ela estão ali. Porque estão mais juntos que nunca. Porque o mais belo beijo estava à distância de tão pouco. Ou apenas porque sim.
Então, próxima parada – Gregorio Marañon. Ela gira. Primeiro os pés, depois as pernas e o tronco. Garante que olha C. uma vez mais e C. certifica-se que Ela o olha uma vez mais e, semicerrando (deliciosamente) os olhos, gira a cara sobre os calacanhares. A anca, essa, foi a ultima abandonar o local (deste modo, pelo menos, lhe pareceu a C. que assim se passou), seguindo o resto do corpo decidido a cumprir mais um dia igual aos outros.
Não falaram. Talvez amanhã ou outro dia que venha ainda depois.
Tão pouco está por saber se teriam algo que dizer-se.
(to be continued ?)
6 Comments:
... e no fim da história, Ela acabará por dizer a C., lamento mas já não dá, não sinto nada, sabes...?
yes please continue...
(to be continued?)...
tás parvo?... claro que é to be continued!!!!... só queria estar lá para ver... é que o C. tem um ligeira tendencia para o exagero... ou, pelo menos, sempre assim me pareceu!!!
espero por mais!
"Habla con ella"!
Continua, com ou sem Ela.
Ou terá C. falado com Ela, num outro dia?
Com regresso marcado?
Fico à espera de mais...Adoro novelas!(sobretudo quando têm um final feliz...será?)
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