30.11.05

Ossos do Ofício II

Hoje, sobre um qualquer tema, e logo ao dealbar do dia, chamam-me de testamudo.
À minha expressão, suponho que de ignorância, outro que ouviu a mesma interpelação, esclarece deligente: -És renitente em portugués... -Renitente yo... no.... Lo que soy, se dice resistente!
Queda-te com esa, hijodeputa

Café da Mañã XV

O café de sempre e de todos os dias fugiu-me inesperado entre os dedos. Onde está o pedinte de boné do F.C.P., onde está a loira da cafeteria, sorridente -olá, buenos dias., onde se meteu o gajo do saxofone pérfido da entrada do metro? Onde se meteu o velho da taluda? Que será feito da gorda do quiosque que sempre refila quando folheio os matutinos? A casa de um é muito mais que a morada em que se recebe o correio. É ter de aturar aquele vizinho de baixo e não outro, é cruzar-nos na escada com os nossos vizinhos e não outros, é o ir às compras no mercado do nosso bairro e não ao de outro. Tal e qual, como na mágica frase do Pingo Doce, ter os seus, sítios do costume. É ter um café, e sabê-lo seu. Um café qualquer, porventura a pior tasca do bairro mas saber que nele se entra e, sem fazer o pedido nos servem o que pediriamos. É nele ter o sítio do costume a cada dia. Mudar de casa, é alterar por consequência, não necessariamente ansiada, todos estes hábitos que tornam a cidade de todos, um cantinho só nosso.É o café da mañã, todas as manhãs, no sítio do csotume.

29.11.05

Pode repetir?

"A Espanha é um pais fortemente conservador. A igreja está muito presente e a sociedade de valores está ainda profundamente (irrizada)"

Superíssima chiquérrima

Hilariante. É que não dá para perder a estória do Independente, transcrita `à lá Gutenberg’ –Jogu para os amigos- pela amante nipónica (Sugestão para Sushi Lover: da próxima tens que editar isto e partir a coisa, em 3 ou 4 postes porque até eu - imagine-se!- já tinha passado pelo texto umas duas ou três vezes com preguiça de ler o Markl. E quanto se perdia, já se vê!!! Mais: aceite Sushi Lover este meu comprometimento de escrever dentro em pouco, ainda que, um não tão largo texto, sobre umas festas a que fui: festas na praia -de noite, de dia, de manhã ou ao twilight, vestido muito pouco ou nada mas sempre super-bem-, festas em clubes privados - os clubes são sempre, directa e proporcionalmente mais fantásticos quanto mais privados se façam crer-, festas com free-pass ou pass-vip ou passe-chic ou um passe-partout de passe-vite, festas em castelos, mansões assombradas cheias de gente assombrosa, chalets suiços na Mealhada, casas enormérrimas na Comporta, na Quinta do Lago e em Moledo, ou mesmo palácios à séria de gente rica e tudo e outras coisas assim e tal mas sempre super-não-sei-se-tá-a-ver de chic e de moderno e de tudo. É que eu fui (e vou!) a imensas festas (até mais do que imensas se me ocorresse outra palavra), e também acho que estamos todos (¿como raio se sublinha o todos no blog?), demasiado fartos destas festas de catering jetset e o que eu acho é que deviamos todos passar a escrever mais sobre as festas e ir a muito menos. Ou então, deviamos todos (todos sublinhado de novo, já se sabe), fazer umas festas cheias de pobreza-chic o que, já se entende, seria super-chic. Trocávamos o wiskhy pela cerveja do Lidl, a cocaína pela bolacha Maria, e o vestido do Yves Saint Laurent-Galliano e tudo pelas sete saia –s-e-t-e- da Nazaré ou assim. Trocávamos o caviar por tremoço, o DJ pelo rancho, a Aruba pela Arruda (dos Vinhos, já se sabe), o moucassin pelo chanato da Adidas de feira e até podíamos trocar o cruzeiro pelo barco de madeira a remos. É que há-os bem bons e chiques no Campo Grande, com gente feia, como convém, a tomar banho e tudo o que, já se sabe, fica super-chic e não vai nada mal com uns calções de banho que comprei já no final da estação, nos saldos espanhóis. É que os calções também têm uma côr verde como a água e um ar super-pobre e fora-de-estação que, já se vê, vai ficar chiquíssimo na festa.
Sushi se tu fores, levo a minha cana e anzol, e logo ali, provamos o melhor red-fish do lago, cru, já se sabe, e vai ser lindo de morrer!

28.11.05

na Casa do Velasquez II

Se, para chegar à minha antiga casa, um quinto piso sem ascensor, era necessário subir noventa-e-sete (97!!) degraus e se, pelo tema da mudança de casa as tive que subir este fim de semana, vinte-e-nove vezes (29!!), quer dizer que subi dois-mil-oitocentos-e-treze degraus (2913!!). Desci os mesmos, mais noventa-e-sete (97!!), porque quando começou o fim de semana já lá estava em cima.
Já o meu ninho novo, é um luxo. Não pelo elevador que é outra miragem dos deuses, mas porque somente tem setenta-e-cinco (75!!) degraus, subidos estes trinta-e-três (33!!) vezes, ou seja dois-mil-quatrocentos-e-setenta-e-cinco (2475!!) míseros degrauzitos. Claro que nesta, desci menos 75 porque Domingo, já tinha o domicílio em cima e não tive de as descer.Entre subidos e descidos vamos em 10.800 degraus o que a 18cm o degrau equivale a escalar o Pico com a casa às costas!
Se a esta aborrecida contagem, se se tiver presença de espírito para se lembrar que obviamente eu ia, em cada um dos degraus acima, degraus abaixo, carregado de caixas e caixotes, saquinhos de plástico, baldes e esfregona, computador e monitos, conservas por comer e garrafas por acabar, CD’s, livros e papéis, móveis e merdas mil que já consegui coleccionar, facilmente se imagina, que não só o meu castelhano vai bem melhor, como também os meus músculos estão de se sonhar com eles!
Amigas e amigas dos amigos; atenção!
- Sim, eu agora sou o ‘Bom Partido’!

na Casa do Velasquez I

frase para me vangloriar e me armar em melhór-cós-outros:
«o ninho que a partir de ontem tomo como morada foi outrora de Diego Velasquez.»
pimbas!

25.11.05

She

Falo com a minha chefa. Ponto de situação. A meio do contrato. Momento entre projectos. Tempo de aclalrar conflitos e pôr os non i’s os pontos que entretanto já namoravam outras letras. A verdade é que aminha ‘chefa’ é uma brasa. Corrijo. Uma senhora. Argentina (de Buenos Aires como convém), cinquentas e troca-o-passo, uma simpatia de menina com saia pregada saída do colégio depois do recreio e uma suavidade de trato que não fora a idade vi(vi)da e eu a quereria só para mim. Trabalha desde sempre neste mundo de filhos da puta; entre tubarões promotores, construtores sem escrúpulos, e alcaides ladrões; sem nunca, tanto quanto me parece (ó ingenuidade, tenra ingenuidade!), perder os seus lirismos de geração parida em sessenta e oito. Enquanto acredita que querer é quase poder, quer quase sempre mais do que pode e, como eu, acorda num dia entre outros, invariavelmente de braços caídos pelo mundo onírico que criou, o qual de tão distante, para que volvesse à realidade tectónica, gravítica e pragmática do problema lhe tomariam –e tomam- inevitavelmente, ao menos dois dias de genuína agonia. A minha ‘chefa’ é uma fixe. Traz-me de quando em vez um livro que não vem, quanto ao trabalho em causa, a propósito de rigorosamente coisa nenhuma; recomenda-me o teatro que não posso perder, entrega-me a chave da discussão do momento sobre a qual não me poderia deixar de manifestar e obriga-me, sem excepção, a lutar por todas as minhas taras, não desfazendo as minhas manias. Um outro dia, que não hoje, nem outro que me possa recordar qual, replica-me como quem me quer pedir um favor irrelevante ou mesmo favor nenhum que por favor, André, não faças o que te pedi, faz o que te apetece. E no final, pagou-me igual. Outro dia, uma manhã, outra em que chego com olhos de quem pouco dormiu, ri-se irónica, asserte que isto não são maneiras e que melhor faria, se passasse a resolver os projectos na noite, em momentos que, já se vê –segundo ela, via-se já- os projectos claramente se resolveriam com a alegria e o espírito mais consentâneos com os bons projectos; posto que completa dizendo que os seus melhores projectos sempre os resolveu em casa com o Carlos –brilham-lhe os olhos, como sempre que fala do argentino que a toma como mulher- ao som de Carlos Gardel ou Astor Piazzola, e renovando o entusiasmo com o melhor (ou o mais barato) vinho. Depois, dias há, esses em que parece que a realidade, ou o cliente, a apanham desprevenida, em que se comporta como a mais tola criança; fazendo beicinho ou mandando sem pudor o Santíssimo pó caralho; o que, em lhe passando a neura só me faz mais querer um dia, com a sua idade, não o cliché de olhar para trás e ver como foi tudo tão bom mas, fazer como ela, e renovar uma outra vez, ultrapassada a arrebatadora, mas sempre curta crise, o entusiasmo pelo trabalho de todos os dias. Pois com ela falei hoje. Sobre o meio do contrato, sobre este momento entre projectos e sobre como se acalmam conflitos. Juntos nos rimos com os i’s que fogem ciclicamente dos pontos para namorar outras letras e sobre como nos vai saber bem ir agora já, antes da hora, de fim de semana, finda uma semana deliciosa porque exactamente igual a quase todas as outras.

As Joanas estão em Angola, e eu também queria lá estar. Queria (por vezes) ser Deus - - que sempre está em toda a parte, ou então ter sido Soares - - que já lá esteve.

Café da Mañã XIV

E eis que Madrid acorda com uma maré de relatórios e de notícias preocupantes. Preocupantes, para nós –portugueses-, sempre constante e tristemente orgulhosos de sermos, na UE, piores em quase tudo. Preocupantes porque são verdadeiramente de nos tirar o chapéu: Espanha, maior consumidor europeu de cocaína. E de ecstasy. E de marijuana. Espanhóis, povo da união com maior desconhecimento do código da estrada, estado com índices mais preocupantes de crescimento da corrupção, povo com maiores índices relatados de violência de género (vulgo marido-dá-pancada-na-mulher). Madrid, a cidade com maiores engarrafamentos, cidade onde a distância média percorrida por tempo é mais elevada, Madrid, a capital das capitais europeias do consumo energético, da poluição atmosférica, etc. Caros compatriotas, um pouco mais de respeito, se fazem favor, para com os recordes destes meus vizinhos.

24.11.05

Perdido en la 'Translation' I

Ovários ao Leme

Eu –macho madrileno- até sou um fixe, mas ela –histérica menstruada- é que é um espectáculo!

Liga de Campiones

Vejo o Manchester-Benfica mergulhado em bifes, o Villareal-Benfica numa imunda tasca e o Benfica-Villareal num local betóide para caramba. Por três vezes, saio de um bar arrastando os pés, mas congratulando-me em como o meu Benfiquinha está mais crescidote e em como, ainda assim, o Benfica é tão grande que passa em directo num qualquer bar de copas madrileno. Anteontem, nem vê-lo. Nem um bar. Nem na mais reles taperia, nem no mais finório restaurante. Não passa. Ponto. Assim só, abandonado, apatriado, me apercebo que antes tinha andado à boleia dos alcoólicos ingleses ou dos patriotas espanhóis e que aquí, para além de a ninguém interessar o Benfica desde que acabou a década de 60, aos franceses adversários (¿onde raio fica Lille?), também ninguém lhes quer dar uma mãozinha. Já ontem, toca de ir experimentar a constelação Bernabéu. Estádio à maneira com a vantagem circunstancial de se poder assobiar a equipa e o treinador da casa. Os galácticos pelas ruas da amargura, e os franceses (Lyon), ainda que sem mãozinha dada, fizeram das tripas, coração; e espetaram com o calcanhar mais à mão a farpa que (Deus queira!) porá o Scolari cá do sítio com bilhete de regresso à América do Sul.

23.11.05

Anti-Globalização

Café da Mañã XIII

Diz-se que depois do temporal vem a bonança. Pois comigo parece que a psique e o phsique andam meio descoordenados; quando de um se vai o temporal, se me vem do outro; quando de um me chega a bonança, logo se me termina a do outro. Agora que o tempo psique se relaxa o tempo para a phsique anda fatal. Alcanço, não sem uma pitada de orgulho, a média estonteante de dez-onze espirros pela matina e de catorze a quinze fungadas por qualquer hora do dia. Ademais, amanhã os termómetros baixam oito graus (a culpa, parece, é de uma tal corriente en chorro), para no dia a seguir se instaurar o alerta de neve. Ora não bastasse a forte constipação, a quem vive sem mimos de lar, pois a mim me caberá mudar de lar, não apenas constipado como também congelado.

22.11.05

daqui-praqui

apenas e só porque uma das coisas que me tem massacrado a cabeça na ultima quinzena foi a procura incessante de um novo ninho

Ao 3º ( x5 ) dias, ressuscitou

Depois de uma (quinzena) de abandono O necessário (re)começo (recorrendo a um) (ligeiro) ajuste de imagem (não) necessariamente para melhor.

1.11.05

Meus amigos,

Quando a cabeça batalha incessante contra si mesma, o melhor é andar calado por uns tempos, esperando confiante, ainda que não sereno, por uma separação entre o trigo e o joio.