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Falo com a minha chefa.
Ponto de situação. A meio do contrato. Momento entre projectos. Tempo de aclalrar conflitos e pôr os non i’s os pontos que entretanto já namoravam outras letras.
A verdade é que aminha ‘chefa’ é uma brasa. Corrijo. Uma senhora.
Argentina (de Buenos Aires como convém), cinquentas e troca-o-passo, uma simpatia de menina com saia pregada saída do colégio depois do recreio e uma suavidade de trato que não fora a idade vi(vi)da e eu a quereria só para mim.
Trabalha desde sempre neste mundo de filhos da puta; entre tubarões promotores, construtores sem escrúpulos, e alcaides ladrões; sem nunca, tanto quanto me parece (ó ingenuidade, tenra ingenuidade!), perder os seus lirismos de geração parida em sessenta e oito. Enquanto acredita que querer é quase poder, quer quase sempre mais do que pode e, como eu, acorda num dia entre outros, invariavelmente de braços caídos pelo mundo onírico que criou, o qual de tão distante, para que volvesse à realidade tectónica, gravítica e pragmática do problema lhe tomariam –e tomam- inevitavelmente, ao menos dois dias de genuína agonia.
A minha ‘chefa’ é uma fixe.
Traz-me de quando em vez um livro que não vem, quanto ao trabalho em causa, a propósito de rigorosamente coisa nenhuma; recomenda-me o teatro que não posso perder, entrega-me a chave da discussão do momento sobre a qual não me poderia deixar de manifestar e obriga-me, sem excepção, a lutar por todas as minhas taras, não desfazendo as minhas manias.
Um outro dia, que não hoje, nem outro que me possa recordar qual, replica-me como quem me quer pedir um favor irrelevante ou mesmo favor nenhum que por favor, André, não faças o que te pedi, faz o que te apetece. E no final, pagou-me igual.
Outro dia, uma manhã, outra em que chego com olhos de quem pouco dormiu, ri-se irónica, asserte que isto não são maneiras e que melhor faria, se passasse a resolver os projectos na noite, em momentos que, já se vê –segundo ela, via-se já- os projectos claramente se resolveriam com a alegria e o espírito mais consentâneos com os bons projectos; posto que completa dizendo que os seus melhores projectos sempre os resolveu em casa com o Carlos –brilham-lhe os olhos, como sempre que fala do argentino que a toma como mulher- ao som de Carlos Gardel ou Astor Piazzola, e renovando o entusiasmo com o melhor (ou o mais barato) vinho.
Depois, dias há, esses em que parece que a realidade, ou o cliente, a apanham desprevenida, em que se comporta como a mais tola criança; fazendo beicinho ou mandando sem pudor o Santíssimo pó caralho; o que, em lhe passando a neura só me faz mais querer um dia, com a sua idade, não o cliché de olhar para trás e ver como foi tudo tão bom mas, fazer como ela, e renovar uma outra vez, ultrapassada a arrebatadora, mas sempre curta crise, o entusiasmo pelo trabalho de todos os dias.
Pois com ela falei hoje. Sobre o meio do contrato, sobre este momento entre projectos e sobre como se acalmam conflitos. Juntos nos rimos com os i’s que fogem ciclicamente dos pontos para namorar outras letras e sobre como nos vai saber bem ir agora já, antes da hora, de fim de semana, finda uma semana deliciosa porque exactamente igual a quase todas as outras.
5 Comments:
sempre tive, e tenho ainda, inveja de como vives a vida.não necessariamente a vida que vives mas a forma como vejo que a fazes passar por ti.
a partir de agora há mais outra pessoa nessa lista de invejas.
os teus ventos amenos levam mais 5 minutos dos meus dias (digo-to somente porque os 5 que levas são dos melhores que se contaram hoje.)
ps. nota-se muito que passei o dia a trabalhar no meu projecto?????
...e acerca da patroa:
" ... I lover her and i haven't met her yet... " (bjork adaptada)
Tenho uma inveja incrível pela maneira como escreves... às vezes nem pareces real! Mas afinal de que planeta és tu? E saber que tens o meu sangue.. porque não escrevo bem também assim como tu???
bj e volta depresa e deixa as saias da patroa
PS: Não escrevo mas tenho outras coisas.. vai ao meu blog!
Que bom que é ter-te de volta!
Em todos os sentidos, em todas as vertentes, ter-te apenas, a ti... nas tuas palavras!
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