13.7.06

pesando a vida airada

(...) do Sol, da superstição, do gato da mesa da cozinha na casa da avó, da pedra fria do passeio, ora negra, ora branca, do olhar o céu pela manhã, ou de baixo, ou de soslaio, o de comprar o jornal para não o ler, plantar algo só para ver crescer, cozinhar muito não para comer senão para encontrar o trago justo, sorrir simples como o sorriso do velho que passa, da criança que descobre o andar ou da mãe solteira que nos sorri também ao passar, pregar sustos, muitos sustos, a quem por nós passa e se não conhece e mais à empregada que serve a mesa do lado, encher de compras um carro delas com tudo de mais caro, ou de mais guloso, ou uma coisa de cada ou todas coisas do mesmo, mas sobretudo deixar ao abandono as compras antes de as pagar, e repetir com dois carros, três, e querer justificar-se com a loucura inconsequente, incómoda, desejar ainda mais loucura senciente e desejar mal a alguém, ou a um país, ou um governo, porque do pensamento não discorrre acção, querer os amigos perto, mais perto, mais perto, cheguem-se bem, dar beijos e abraços e perder-se num vinho, dois, ... e lacrimejar bem alto em publico, levantar-se sempre num pulo e responder ao primeiro pássaro da maña, fazer um desvio para cumprimentar quem nunca antes se viu e consentir-se sempre mais e melhores coisas sem sentido. (...)