9.3.06

Cantar de galo

Afinal também com o futebol se aprende. Com a noite de ontem reaprendem-se as relações de David e Golias de que está a vida cheia. Recordou-se que aos Davides deste mundo está reservado todo o espaço do mundo em potència. Querer é sempre meio caminho andado para acontecer, e se ao querer, se lhe acrescentar o saber, o transpirar e o suar, a acontecimento em potência pode efectivamente concretizar-se. Os Golias também poderam recordar algo. Recordar que a melhor arma não é a maior pedra senão a mais ágil. Recordar que a cada batalha, em cada momento e contra (ou com) quem quer que seja há que bater-se de início sem assumições de vantagem à priori. Isso se passou com o Liverpool (para não falar do Real Madrid...) que não entendeu antes, nem durante, nem depois dos dois desafios que como à mulher de César, não bastava ser melhor equipa, havia que demonstrá-lo. Sem suor, sem sangue e sem o querer, ficaram sem querer fora da liga da qual, há menos de um ano haviam sido uns heróicos vencedores. O Benfica atacou com somente duas pedras. Com a pedra de Sísifo que o Liverpool largou sobre a sua própria cabeça ao vir a Lisboa ‘fazer de contas’ que estava interessado em jogar à bola e com a pedra que detinha desde o início: 180 minutos a jogar o possível, aproveitando a mínima chance para acertar em cheio na presa. Eu gosto dos Davides. Gosto deste Benfica de peito cheio e sem medo e gosto de me sentir também de peito cheio pelo meu benfiquinha, gosto de ver a torcida do Real a culpar o mundo inteiro esquecendo-se antes de tirar o cotão do umbigo e gosto de ver Liverpool e ManUtd pelo caminho, tão reis de si que ficam sem reino, gosto infinitamente mais destes jogos a eliminar que a somar e gosto dos embates aparentemente desiguais, gosto de ver bola e gosto tanto mais de uma vitória quanto mais inesperada seja. Como ontem.Foi bom passar a eliminatória frente ao gigante, melhor passar com uma vitória, melhor sem sofrer e com um grande golo e melhor, muito melhor, aquele ultimo golo que já não conta para nada, a não ser para fazer lembrar de novo ao Golias que estava equivocado. Irremediavelmente equivocado.