10.1.06

Café da Mañã XVI

Já deve faltar pouco para a ciência explicar (ou talvez até já o tenha feito), porque é que é no duche que mais momentos Eureka tenho. Entro na banheira e vai shampoo, vai sabonete, vai escova de dentes e até tem dias que vai a barba. Depois deixo-me ficar com o chuveiro a toda-pressão pela cara e dela, a água jorrando pelo corpo todo, traçando linhas sempre diferentes e inesperadas. O ciclo da água; a água que não passa duas vezes por debaixo da mesma ponte, nem jorra duas vezes pelo mesmo corpo. A mente dispersa e dispara, resolve projectos, equações impossíveis, sudokus e xeques-mate, textos escrevem-se instantanemente, a vida reequaciona-se e redescobre-se, redobram-se decisões enquanto se abandonam outras, e fica o desejo que o duche não mais acabe. Que se possa (quando a ciência perceber como) vir um dia a poder-se nesse mesmo momento, enviar o mais belo email ou escrever no Moleskine o mais acabado pensamento do dia.